As viagens dos
cientistas e naturalistas definiam uma ampla identificação e coleta da flora e
da fauna, pois descreviam os novos povos e seus costumes excêntricos, essas
pessoas foram responsáveis pelos primeiros estudos de nossa natureza e registro
de nossas paisagens. Os naturalistas que vieram ao Brasil haviam tomado a difícil
decisão de viajar, pois a valorização do trabalho do viajante não era de total concordância
dos mesmos. Georges Cuiver foi um dos mais importantes naturalistas da primeira
metade do século XIX, tendo desenvolvido método e programas de pesquisa para
várias áreas da história natural, mas não foi um viajante, optou por ficar em Paris,
onde nasceu e foi criado, justificou que era por razões cientificas. Já
Geoffroy Saint, decidiu ao contrario, tomar o caminho da África, Cuiver, mas
tarde combateria as ideias de Geoffroy sobre a unidade de composição orgânica,
em uma polêmica, acompanhada pelo público através de jornais e revistas da
época.Cuiver expõe
suas justificativas sobre percorrer diferentes locais, para defender seu ponto
de vista. Alegava que se por um lado, ele pode observar as coisas e os seres nos
próprios lugares onde a natureza os colocou, por outro não pode consultar lá
mesmo seus livros ou comparar os exemplares que encontra com outras semelhantes.
Alexander Vor defende que impressões estéticas experimentadas pelo visitante em
cada região fazem parte da própria atividade cientifica e não podem ser substituídas
por descrições ou amostras destacadas dos lugares onde foi coletado, o método
de trabalho preferido por Cuiver pressupõe outro lugar de produção, como
citamos acima, ''o gabinete''. Essa opção não indica desprezo com relação aos
resultados das viagens e visto como um coletor, cujas coleções e informações
são essenciais para a história natural.
Os viajantes
naturalistas que vieram ao Brasil e reivindicavam a influencia de Humboldt,
tais como Von Martius ou Auguste de Saint Hilaire, optaram pela viagem, pois
queriam ''ver com os
próprios olhos''. A viagem em geral considerada pela historia natural como uma
das etapas necessárias para a transformação da natureza em ciência. A obra de
Humboldt sobre o novo mundo, juntamente com a arte, pois ajudava na expressão
privilegiada para dar conta das sensações visuais experimentadas pelos
viajantes, acompanha sempre que possível os relatos e descrições feitos por
naturalistas, logo as expedições muitas vezes contava com a presença de
artistas, como Louis de Choris,Thomas Ender ou Adrien Taunay (
Bellzzo,1999,Diener e Costa,1999 Martins,1999). O mais marcante da abordagem
humbddtiana, independentemente da qualidade artística das representações, e o
estudo das ''fisionomias'' das paisagens. Outro naturalista muito importante
foi Carl Philipp Von Martius, além de produzir classificação precisas, números
herbários e trabalhos em antropologia e historia, descreveu com sensibilidade
diversas fisionomias vegetais presentes no Brasil. No monumental
Historia Naturalis Palmarum (1823-53), de Martius, as espécies estudadas
aparecem em três registros diferentes: retratadas a partir de seus detalhes
morfológicos, inseridas em seu ambiente natural, paisagens, em alguns casos,
com a presença de animais, de humanos e de edificações dispostas em grandes
mapas do mundo. Detalhamento e descrição minuciosa de suas partes componentes,
o que é essencial para a classificação e para a compreensão do desenvolvimento
do vegetal. O naturalista evidencia aí a importância que as imagens tem em seu
trabalho cientifico.Sendo assim, imagem e texto articulam-se organicamente na
produção cientifica de Martius. O discurso acadêmico ao qual ele se refere: A
fisionomia do reino vegetal, de 1824 - descreve as diversas formas que compõem
o país. O Brasil é definido como um todo geográfico, delimitado pelo mar e por
dois grandes rios: o da Prata e o Amazonas. A unidade subjacente a essa região
é dada pelas florestas, que dominam grande parte do território. A unidade, a
altitude, a proximidade do equador, entre outros fatores, alteram a vegetação
e, consequentemente, a fisionomia dos lugares.
Voltando a prancha
60 de Historia Naturalis Palmarum, vê-se aí não apenas um conjunto vegetal, mas
também a presença de um índio e de uma onça. Esses elementos ajudam a compor a
fisionomia dessa floresta amazônica, onde ocorrem as palmeiras descritas e onde
a cena de caça poderia acontecer.Homens e natureza são estritamente
relacionados nas concepções científicas de Martius, assim como o eram para
Humboldt. Do mesmo modo, Martius relaciona o ''caráter'' das populações ao
ambiente onde vivem. No discurso de 1824, ele descreve a floresta amazônica. A
percepção das fisionomias como conjuntos de dados climáticos, topográficos, culturais,
de flora e de fauna que permite formar uma postura ecológica avant la lettre,
que relaciona os seres vivos a uma certa ''economia natural'' ( 1998).
Os diversos
registros que se originam da observação e da pesquisa de um determinado
fenômeno incluem no caso da viagem de Spix e Martius ao Brasil, o tratamento da
natureza como conjunto de indivíduos animais e vegetais, tratados de maneiras
cientifica que se atêm aos detalhes. A iconografia resultante das viagens
científicas do século XIX costuma representar cenas consideradas típicas da
vida nos trópicos, onde a natureza e os indígenas têm papel predominante. O
pintor Louis de Choris, que passou pelo Sul do Brasil em 1815, procurou
retratar traços naturais e humanos no interior de um mesmo conjunto. Em uma das
poucas ilustrações que fez sobre o Brasil, insere em uma paisagem de Santa
Catarina pássaros, répteis, plantas, relevo local e o que seria um ''brasileiro
típico''.Vários naturalistas colocam em suas obras cenas que retratam a relação
dos homens com a natureza, como é o caso do Selecta Genera et Species Piscium,
de Spix (1829-31), que retrata os índios e suas técnicas de pesca. A utilização
de produtos naturais pelas populações locais de pesca. Jean Baptiste Debret,
por exemplo, evidencia a presença de plantas e animais exóticos em obras que
mostram escravos vendendo frutos tropicais, negros caçadores e coletores de
borboletas. A obra deWied-Neuwied também enfatiza esse aspecto da interação
entre homem e o mundo natural, onde índios aparecem ocupados com seus afazeres
cotidianos e grupos típicos são retratados em suas relações com paisagens,
animais e plantas locais.
A tentativa de
registrar a totalidade dos fenômenos naturais e a consideração dos fatos da
cultura como parte integrante das paisagens naturais levou diversos
naturalistas a buscarem auxilio na vivacidade das descrições literárias para
delinear fisionomias. O botânico Von Martius recorre inúmeras vezes a citações
literárias e poéticas que o auxiliem na tarefa de descrever como precisão as
sensações vividas. Assim, o modelo humboldtiano orientou uma determinada
maneira de retratar lugares percorridos pelos viajantes. Martius escolhe com
precisão as fisionomias retratadas em seus inúmeros livros, muitas vezes
desenhadas ou pelo menos esboçadas por ele mesmo ou por artistas conceituados
que vieram ao Brasil, como Rugendas e Thomas Ender. Os momentos retratados são
especiais, únicos e típicos ao mesmo tempo. Únicos, porque foram vividos e
observados pelo próprio viajante ao longo de suas andanças. Típicos, porque os
fenômenos descritos ocorrem ali sempre sob as mesmas circunstâncias. É como se
cada fisionomia contivesse uma parte da alma do Brasil. Apesar de se
especializar na descrição de sensações, a ciência romântica de matriz
humboldtiana não deve ser confundida com descrições de cunho inteiramente
pessoal e, por isso, totalmente subjetiva. Humboldt, Martius, Saint-Hilaire, ou
Wied-Neuwied acreditavam utilizar os recursos das artes e da retórica para
retratarem fielmente a realidade quem observavam. A sensibilidade individual
seria importante na medida em que dota alguns indivíduos da capacidade de
perceber as forças que atuam na natureza e de transmitir as sensações vividas.
Para grande parte
dos naturalistas de século XIX, a multiplicidade de sensações que envolvem o
naturalista em sua viagem poderia e deveria ser descrita pela ciência. Enfim
1808, com a vinda da corte portuguesa houve um amento expressivo de
estrangeiros no Brasil, destacando-se os Naturalistas viajantes, que em
primeiro momento objetivaram seus trabalhos relacionados ás ciências naturais;
mas que conseguintemente formularam considerações sobre política, cultura,
economia e povos do Brasil do Século XIX, como vimos acima era um desafio essas
viagens por conta dos perigos físicos as aventuras, ao desafio da valorização
dos seus trabalhos, impulsionados muitas das vezes por quererem ver,
transformando numa desafiadora tarefa de sensações, experiências e seres vivos
integrantes a ordem natural, como herança seus registros e análises nos seus
cadernos de estudos. Neste entendimento, a passagem dos naturalistas pelo
Brasil trouxe consideráveis contribuições para o conhecimento das regiões e
estados, especialmente para a história dos estudos do patrimônio cultural, que
foi detalhado ao longo de seu trabalho cientifico.