sexta-feira, 22 de março de 2013

Os viajantes Naturalistas

As viagens dos cientistas e naturalistas definiam uma ampla identificação e coleta da flora e da fauna, pois descreviam os novos povos e seus costumes excêntricos, essas pessoas foram responsáveis pelos primeiros estudos de nossa natureza e registro de nossas paisagens. Os naturalistas que vieram ao Brasil haviam tomado a difícil decisão de viajar, pois a valorização do trabalho do viajante não era de total concordância dos mesmos. Georges Cuiver foi um dos mais importantes naturalistas da primeira metade do século XIX, tendo desenvolvido método e programas de pesquisa para várias áreas da história natural, mas não foi um viajante, optou por ficar em Paris, onde nasceu e foi criado, justificou que era por razões cientificas. Já Geoffroy Saint, decidiu ao contrario, tomar o caminho da África, Cuiver, mas tarde combateria as ideias de Geoffroy sobre a unidade de composição orgânica, em uma polêmica, acompanhada pelo público através de jornais e revistas da época.Cuiver expõe suas justificativas sobre percorrer diferentes locais, para defender seu ponto de vista. Alegava que se por um lado, ele pode observar as coisas e os seres nos próprios lugares onde a natureza os colocou, por outro não pode consultar lá mesmo seus livros ou comparar os exemplares que encontra com outras semelhantes. Alexander Vor defende que impressões estéticas experimentadas pelo visitante em cada região fazem parte da própria atividade cientifica e não podem ser substituídas por descrições ou amostras destacadas dos lugares onde foi coletado, o método de trabalho preferido por Cuiver pressupõe outro lugar de produção, como citamos acima, ''o gabinete''. Essa opção não indica desprezo com relação aos resultados das viagens e visto como um coletor, cujas coleções e informações são essenciais para a história natural.
Os viajantes naturalistas que vieram ao Brasil e reivindicavam a influencia de Humboldt, tais como Von Martius ou Auguste de Saint Hilaire, optaram pela viagem, pois queriam ''ver com os próprios olhos''. A viagem em geral considerada pela historia natural como uma das etapas necessárias para a transformação da natureza em ciência. A obra de Humboldt sobre o novo mundo, juntamente com a arte, pois ajudava na expressão privilegiada para dar conta das sensações visuais experimentadas pelos viajantes, acompanha sempre que possível os relatos e descrições feitos por naturalistas, logo as expedições muitas vezes contava com a presença de artistas, como Louis de Choris,Thomas Ender ou Adrien Taunay ( Bellzzo,1999,Diener e Costa,1999 Martins,1999). O mais marcante da abordagem humbddtiana, independentemente da qualidade artística das representações, e o estudo das ''fisionomias'' das paisagens. Outro naturalista muito importante foi Carl Philipp Von Martius, além de produzir classificação precisas, números herbários e trabalhos em antropologia e historia, descreveu com sensibilidade diversas fisionomias vegetais presentes no Brasil. No monumental Historia Naturalis Palmarum (1823-53), de Martius, as espécies estudadas aparecem em três registros diferentes: retratadas a partir de seus detalhes morfológicos, inseridas em seu ambiente natural, paisagens, em alguns casos, com a presença de animais, de humanos e de edificações dispostas em grandes mapas do mundo. Detalhamento e descrição minuciosa de suas partes componentes, o que é essencial para a classificação e para a compreensão do desenvolvimento do vegetal. O naturalista evidencia aí a importância que as imagens tem em seu trabalho cientifico.Sendo assim, imagem e texto articulam-se organicamente na produção cientifica de Martius. O discurso acadêmico ao qual ele se refere: A fisionomia do reino vegetal, de 1824 - descreve as diversas formas que compõem o país. O Brasil é definido como um todo geográfico, delimitado pelo mar e por dois grandes rios: o da Prata e o Amazonas. A unidade subjacente a essa região é dada pelas florestas, que dominam grande parte do território. A unidade, a altitude, a proximidade do equador, entre outros fatores, alteram a vegetação e, consequentemente, a fisionomia dos lugares.
 Voltando a prancha 60 de Historia Naturalis Palmarum, vê-se aí não apenas um conjunto vegetal, mas também a presença de um índio e de uma onça. Esses elementos ajudam a compor a fisionomia dessa floresta amazônica, onde ocorrem as palmeiras descritas e onde a cena de caça poderia acontecer.Homens e natureza são estritamente relacionados nas concepções científicas de Martius, assim como o eram para Humboldt. Do mesmo modo, Martius relaciona o ''caráter'' das populações ao ambiente onde vivem. No discurso de 1824, ele descreve a floresta amazônica. A percepção das fisionomias como conjuntos de dados climáticos, topográficos, culturais, de flora e de fauna que permite formar uma postura ecológica avant la lettre, que relaciona os seres vivos a uma certa ''economia natural'' ( 1998).
Os diversos registros que se originam da observação e da pesquisa de um determinado fenômeno incluem no caso da viagem de Spix e Martius ao Brasil, o tratamento da natureza como conjunto de indivíduos  animais e vegetais, tratados de maneiras cientifica que se atêm aos detalhes. A iconografia resultante das viagens científicas do século XIX costuma representar cenas consideradas típicas da vida nos trópicos, onde a natureza e os indígenas têm papel predominante. O pintor Louis de Choris, que passou pelo Sul do Brasil em 1815, procurou retratar traços naturais e humanos no interior de um mesmo conjunto. Em uma das poucas ilustrações que fez sobre o Brasil, insere em uma paisagem de Santa Catarina pássaros, répteis, plantas, relevo local e o que seria um ''brasileiro típico''.Vários naturalistas colocam em suas obras cenas que retratam a relação dos homens com a natureza, como é o caso do Selecta Genera et Species Piscium, de Spix (1829-31), que retrata os índios e suas técnicas de pesca. A utilização de produtos naturais pelas populações locais de pesca. Jean Baptiste Debret, por exemplo, evidencia a presença de plantas e animais exóticos em obras que mostram escravos vendendo frutos tropicais, negros caçadores e coletores de borboletas. A obra deWied-Neuwied também enfatiza esse aspecto da interação entre homem e o mundo natural, onde índios aparecem ocupados com seus afazeres cotidianos e grupos típicos são retratados em suas relações com paisagens, animais e plantas locais.
 A tentativa de registrar a totalidade dos fenômenos naturais e a consideração dos fatos da cultura como parte integrante das paisagens naturais levou diversos naturalistas a buscarem auxilio na vivacidade das descrições literárias para delinear fisionomias. O botânico Von Martius recorre inúmeras vezes a citações literárias e poéticas que o auxiliem na tarefa de descrever como precisão as sensações vividas. Assim, o modelo humboldtiano orientou uma determinada maneira de retratar lugares percorridos pelos viajantes. Martius escolhe com precisão as fisionomias retratadas em seus inúmeros livros, muitas vezes desenhadas ou pelo menos esboçadas por ele mesmo ou por artistas conceituados que vieram ao Brasil, como Rugendas e Thomas Ender. Os momentos retratados são especiais, únicos e típicos ao mesmo tempo. Únicos, porque foram vividos e observados pelo próprio viajante ao longo de suas andanças. Típicos, porque os fenômenos descritos ocorrem ali sempre sob as mesmas circunstâncias. É como se cada fisionomia contivesse uma parte da alma do Brasil. Apesar de se especializar na descrição de sensações, a ciência romântica de matriz humboldtiana não deve ser confundida com descrições de cunho inteiramente pessoal e, por isso, totalmente subjetiva. Humboldt, Martius, Saint-Hilaire, ou Wied-Neuwied acreditavam utilizar os recursos das artes e da retórica para retratarem fielmente a realidade quem observavam. A sensibilidade individual seria importante na medida em que dota alguns indivíduos da capacidade de perceber as forças que atuam na natureza e de transmitir as sensações vividas.
 Para grande parte dos naturalistas de século XIX, a multiplicidade de sensações que envolvem o naturalista em sua viagem poderia e deveria ser descrita pela ciência. Enfim 1808, com a vinda da corte portuguesa houve um amento expressivo de estrangeiros no Brasil, destacando-se os Naturalistas viajantes, que em primeiro momento objetivaram seus trabalhos relacionados ás ciências naturais; mas que conseguintemente formularam considerações sobre política, cultura, economia e povos do Brasil do Século XIX, como vimos acima era um desafio essas viagens por conta dos perigos físicos as aventuras, ao desafio da valorização dos seus trabalhos, impulsionados muitas das vezes por quererem ver, transformando numa desafiadora tarefa de sensações, experiências e seres vivos integrantes a ordem natural, como herança seus registros e análises nos seus cadernos de estudos. Neste entendimento, a passagem dos naturalistas pelo Brasil trouxe consideráveis contribuições para o conhecimento das regiões e estados, especialmente para a história dos estudos do patrimônio cultural, que foi detalhado ao longo de seu trabalho cientifico.  



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